Saturday, February 8, 2014

Saturday, February 8, 2014 0

Automação Residencial

Lembram do desenho da Hannah - Barbera chamado The Jetsons, que se passava em um tempo do futuro onde tudo a volta deles era automatizado? Pois bem, não chegamos no nível de andar em esteiras em nossas próprias casas, pelo menos por enquanto, mas a automação é um tema cada vez mais presente.
Este post, foi criado com o intuito de lembrar desse desenho feito em 1962/3.
Segue abaixo os croquis dos ambientes onde os personagens interagem:





Agora falando de automação residencial, encontrei este site: CLIQUE PARA ABRIR O SITE
nele contém um video interativo, que explica como uma casa automática pode funcionar.

Tenham um ótimo final de semana!


Friday, October 1, 2010

Como harmonizar sua casa com as cores do Feng Shui?

Friday, October 1, 2010 0

Tudo que existe possui cor. As cores são utilizadas para harmonizar ou causar algum desconforto, dependendo da forma que é empregada. Na cromoterapia, vemos que as cores podem curar, alegrar, entristecer, aumentar o apetite ou perdê-lo.



Justamente por esses motivos é que devemos nos preocupar com a correta utilização das cores. Escolher com muito cuidado e carinho faz com que o ambiente se torne agradável de se viver.



Harmonizando com o Feng Shui, poderemos escolher melhor qual será a área que iremos ativar sem causar prejuízo à integridade do fluxo de energia que circula em nossos lares e ambientes de trabalho.


Fonte:http://www.suvinil.com.br/FengShuiCasa.aspx
Veja como funciona um Ba-guá:http://www.suvinil.com.br/Hotsite/bagua/bagua.html

Monday, August 30, 2010

Arquitextos - 001.04ano 01, jun 2000 - Autenticidade e Rudimento - Paulo Mendes da Rocha e as intervenções em edifícios existentes - Luis Espallargas

Monday, August 30, 2010 0
Link:

Introdução

Em arte e mais ainda em arquitetura o novo e o original confundem-se por vezes como sinônimos: algumas coisas são inovadoras por que desconhecidas, outras por despertar novamente o primordial. Uma sutil e adjetiva distinção que demarca profundas oposições entre as intenções dos arquitetos que tem proposto arquitetura moderna. Oposição entre o estranhamento do novo e a intimidade com o novo.

Reconstituir a originalidade imaginando a cabana de Adão ocupou muitos arquitetos em busca da moradia ideal e do paraíso perdido. Recordar num desenho: a pureza, precisão e engenho, pressupostos no abrigo original, quando arquitetura e construção eram uma e a mesma coisa, propiciaria o encontro com a essência e a perfeição de um feito arquitetônico.


A origem por ser memorável deve ser, em qualquer caso, familiar. Tal reconhecimento seja ele histórico, genético ou essencial vai imediatamente suprir a desejável exigência de autenticidade, subentendida como identidade, que pode aproximar seus objetos e ações da verdade, da nacionalidade e da universalidade.

Quando se persegue a origem da arquitetura, é natural atribuir um papel básico à técnica, por que quando a arquitetura retornar a seu primeiro e ancestral problema, perguntará por seus aspectos elementares e construtivos. Enfrentará seu recorrente, constitutivo e irrevogável problema.

Na busca dos aspectos originais existem vários caminhos: é possível romancear historiograficamente as técnicas anteriores para idealizar uma função moderna como quis o romântico Eugène Viollet-le-Duc com o estilo gótico; é factível legitimar e ativar a técnica primitiva e conduzi-la pelo fio da forma e do espaço modernos como mostrou o eclético Le Corbusier no polêmico projeto da casa Errazuris na costa chilena. E, finalmente é e sempre será formidável interpretar qualquer técnica construtiva revelando nela a fugaz ancestralidade imanente a um procedimento que, a exemplo dos períodos remotos, não distinga entre arte e ciência ou entre arquitetura e construção. Uma técnica onde se capture e registre a perspicácia que reproduz o poder e o princípio da primeira idéia, que imite o instinto certeiro e a razão mais pura de primitivos inventores habituados aos fundamentos da criação. Uma técnica efetiva, sempre conhecida e compartilhada que pode adquirir poderosos significados culturais e que ao dar conta da constituição do objeto arquitetônico o habilita a prescindir das arbitrariedades da forma e dos ornamentos supérfluos que povoam as arquiteturas mais vulgares. Por este caminho vai se recuperar a origem, menos como historicismo ou imaginação formal e mais como a atitude que vai suprir a ausência da original noção grega de tecné.

Mas uma tal idéia de técnica, para não ser acusada de anacrônica, tem que encontrar sentido em técnicas contemporâneas, que selecionadas estabeleçam compromissos e preferências com alguns aspectos técnicos: procedimentos ou aparências que tenham características simples e primitivas e até brutas e rústicas. Onde consequentemente não participe a Tecnologia ou o estágio técnico moderno em que os procedimentos estão fundamentados e controlados pela ciência aplicada e por seus métodos de controle e dedução. Tecnologia científica que substitui o artefato pelo produto bem acabado; que troca o elemento e sua integridade pelo componente e sua submissão, que privilegia a montagem em detrimento da construção insinuando mais valor para um virtuoso detalhe de junção ou arremate do que para a estrutura definidora de arquitetura. Técnica avançada que faz referência à produção e à indústria e que descarta, de maneira irreversível, a empírica e instintiva técnica do artifício e do rudimento.

Paulo Mendes da Rocha

Falar do trabalho de Paulo Mendes da Rocha, obrigaria a voltar um pouco à história recente da arquitetura paulistana, para desde lá traçar algumas características que em sua obra resistem com firmeza a autenticidade sempre.

Paulo Mendes da Rocha fala sempre da técnica porém em quase toda sua obra o aspecto técnico homenageado e mais evidente é a estrutura. Construir corretamente tem clara importância para a arquitetura porém a estrutura será, neste caso, a única entre todos os momentos técnicos, que pode ter a estatura de partido arquitetônico indiferente aos tratados e manuais, tal constatação é tão verdadeira para esta escola que interfere em todas escolas de arquitetura brasileiras fazendo que se ensine preferencialmente o Cálculo de estruturas de concreto em lugar de Construção no seu sentido amplo.

É como se a arquitetura ficasse esgotada na própria construção de sua estrutura e é provável que a arquitetura brasileira apenas reconheça valor na técnica quando a ela se faz referência por intermédio da estrutura. Construir, no sentido que os arquitetos querem desde a arquitetura limitou-se, durante anos, a construir uma estrutura. E quanto mais isto ficasse patente sem distrações ou superposições de elementos de mediação ou etapas secundárias, tanto melhor.

Após sistemática desfiguração cultural e após a contínua decadência representada por "simulacros de cidades" de inspiração estrangeira e projetos copiados de "antologias de arquiteturas" fazia sentido, para muitos arquitetos de uma geração, pensar em recuperar a arquitetura exigindo sua referência às mais autênticas raízes nacionais. Conectando tal reação original com a técnica ancestral, com o passado genuinamente cultural que pudesse ter sobrevivido à colonização e com demais aspectos míticos como podem ser: a utilização de formas arquetípicas e a insistência nos predicados mais essenciais da arquitetura: abrigar, cobrir, ajustar-se à natureza, dominar a mesma natureza, etc.

A técnica para Paulo Mendes da Rocha não corresponde a uma ponta técnico-científica avançada, nem esta ligada aos produtos mais industrializados ou aos acabamentos mais perfeitos. Existe um dedutível escrúpulo que evita o virtuosismo tecnológico comum, por exemplo, na arquitetura dita high-tech. Não há refinamento ou acabamento, mas a estrita e rude explicitação de uma técnica voluntariamente cabocla. Como fica evidente numa arquitetura repleta de detalhes simples e caseiros: como a "aranha" de bitolas redondas que ancoram a protensão das vigas ou como o engenhoso guarda-corpo de cantoneira ou ferro de armação dobrados manualmente e ponteados no canteiro ou ainda como as janelas artesanais que pivotam excentricamente repousando distintamente em função do deslizamento em canaletas das cargas que são seus vidros duplos. Tudo leva a pensar na afirmação de uma técnica baseada na capacidade humana de enfrentar e resolver um arte factu e com isso evitar a presença de sistemas industrializados e soluções de catálogo.

Pinacoteca

Nos dois exemplos comentados aqui existem coincidências notáveis. Em ambos casos esta intervindo-se em edifícios exemplares com características próprias muito fortes e problemas de acesso e utilização a ser corrigidos, nos dois casos os aspectos urbanos e públicos tem um destaque importante nas decisões do projeto arquitetônico, nas duas vezes Paulo Mendes da Rocha esta trabalhando em equipe com duas equipes de arquitetos mais jovens com quem tem total afinidade.

Curioso como um arquiteto que detesta a história da arquitetura nos seus aspectos mais gerais, pode ser um bom arquiteto? Duas possibilidades: A boa arquitetura não trem correspondência com os feitos históricos ou a distância que se quer manter da história não seria tão grande como se quer fazer crer.

Cobrir e atravessar, apoiar-se e grudar-se parasitar no sentido de quem nasce e cresce em outros corpos organizados

Porque ali a construção constituiria um aspecto fundamental do desenho e da forma da arquitetura.

As pontes enquadram-se no esquema tripartite do edifício.

Simetria e similaridade contam no forte edifício e as pontes constróem o novo eixo central sugerido pela nova orientação do edifício e o belvedere obedece a excepcionalidade do lugar. A similaridade sugere rampas nos dois níveis.

As imagens de Gianbattista Piranesi de seus Carceri são análogas.

Na Pinacoteca descascam-se as paredes para eliminar revestimentos e ornamentos que escondiam poderosas alvenarias, fábrica de tijolos de textura e presença fabulosas onde, como costuma acontecer nas ruínas, o mito da construção alcança um resistente e persistente apelo e onde o estado inacabado e bruto dos materiais sugere uma experiência estética contundente. Tal assepsia, ao descarnar, reconhece que os agentes portantes constituem a ação primordial, simultaneamente essencial e material, de uma construção, que neste caso, não é propriamente uma estrutura de tipo reticulado: elementarizada em vigas e pilares ou de tipo ósseo e gótico, associada ao esqueleto animal. Mas uma estrutura ancestral de muros de carga com índole romana. Paredes e engrossamentos com colunas adoçadas ou pilastras pareadas, inventadas nas perspectivas de Donato Bramante para a casa de Rafael em Roma.

Ruínas são testemunhos de antecessores, elementos e documentos da base cultural que antecedem e que se herdam. Aspectos que se guardam, para neles poder reconhecer, entender e explicar.

Do outro lado uma visão estrita e moderna: a que teria emancipado um país anteriormente colonizado.

A inversão de entrada ao edifício surge como o princípio da intervenção. Quer "corrigir" um acesso sufocado e comprimido, muito próximo à barulhenta e movimentada avenida Tiradentes, deslocando-o para o aprazível jardim lateral voltado para a estação da Luz, em logradouro mais pacato e humano. Mas quer mais. Também quer reorganizar a "visão labiríntica" alterando os sentidos em todos seus sentidos e dando assim escusa para introduzir pontes-passarelas que tornam os percursos claros, retilíneos e talvez algo redundantes. Tal inversão legitima-se em crítica e em certo desprezo a um edifício acadêmico em estilo neoclássico, e na possibilidade de recuperá-lo, submetendo-o a operação moderna e purificadora, ou a uma "intervenção técnica".

Um julgamento isento poderia sugerir o contrário: não há transgressão, nada acontece na intervenção do edifício neoclássico que não estivesse prevista em seu rígido esquema planimétrico e distributivo. As pontes são absolutamente devedoras dos abstratos eixos de simetria. A colocação das pontes em dois níveis corresponde à noção clássica de similaridade, que leva por este raciocínio a repetir os mesmos elementos em situações similares, o que um raciocínio funcional não recomendaria por ser a circulação interrompida pelo octógono no nível superior.

É difícil imaginar que um edifício de matriz clássica possa ter circulações ou espaços labirínticos, já que seus esquemas funcionais e distributivos estão fundamentados na clareza e obviedade de sua organização em planta. Portanto a dificuldade de orientação e a falta de legibilidade deveriam ser atribuídas ao reconhecido estado degradado e deturpado que muitos anos de mal e irresponsável uso haviam imposto ao edifício do museu. Uma planta tripartida com octógono central e pátios retangulares laterais e abertos em simetria bi-axial. Nada pode ser mais imediato, consensual, conhecido e evidentemente: pouco inspirado, já que pertence a um tempo em que a invenção não era um valor. A inversão do acesso diminui , no uso, o caracter classicizante da planta, já que entrar pela lateral sugere mais uma série de ambientes justapostos e menos uma simetria.

Há um discurso moderno e ortodoxo de quem olha a história com valores contemporâneos e portanto a subestima, porém há, por outro lado uma atitude de projeto distinta que consegue reconhecer nos edifícios da história valores permanentes da arquitetura, distantes de qualquer nostalgia ou romantismo, incorporando-os e com eles reagindo. Aqui a ação adquire um significado renovado e avesso ao texto moderno.

Na verdade as pontes-passarelas estão mais para afirmar que ao cruzar o pátio, se esta, agora, dentro do edifício e menos para retificar qualquer insuficiência de circulações.

Os pátios abertos são transformados em salões interiores de pé-direito triplo, protegidos por diáfanas coberturas planas de vidro, que apesar de parciais, sugerem o "empacotamento" do edifício e insinuam sua catalogação. Com a retirada das esquadrias diminui o aspecto exterior de fachada das paredes e dramatiza-se o aspecto de ruína das aberturas e a continuidade do piso de granito do piso inferior somado à passarela nos dois níveis reforçam a ambivalência entre interior e exterior.

A laje do octógono no segundo pavimento amplia a importância deste nível.


FIESP

Não há exceções nesta arquitetura, muito menos episódios. A estrutura define as arestas brancas de um prisma retangular transparente grudado na barriga da estrutura mastodôntica / faraônica. E o anterior edifício centrado num terreno, começa a ganhar padrões de implantação. A extensão do prisma até a divisa direita do terreno amarra o térreo e consequentemente restitui um valor à elevação frontal que Golias nunca havia tido. O recuo do térreo com a demolição da laje permite balançar na frente a estrutura metálica, novamente diferenciando intervenção e intervido. O banal plano nobre que se destaca da calçada pública da avenida é substituído por níveis desencontrados que subvertem e conferem novo sentido para o lugar. Reafirma o sentido público com a dilatação das calçadas e do espaço, com a transparência que permite desnudar/perpassar/atravessar com a vista e com a exposição apresentada ao pedestre como vitrine da galeria. O valor da intervenção não se concentra no acrescido, mas compreende que há de se conferir novo valor ao existente.

A técnica apenas pode comparecer como idéia ou partido de arquitetura, na forma de estrutura, mas tampouco se trata de qualquer estrutura. Estamos falando de esqueletos.

É possível que na arquitetura moderna a relação dos arquitetos se estabelecesse no campo da técnica e que tal relação atualmente tenha sido transferida para uma relação entre arquitetura e tecnologia.

É possível que Paulo Mendes da Rocha prefira valer-se mais da técnica e menos da tecnologia. De uma técnica que pode ser quase confundir-se, como em origem de fato confundia-se, com a arte ou com a ciência. De uma técnica que penetra em todas as atividades humanas, como um processo genérico (geral) ou operação qualquer que trata de atingir um efeito (feito) determinado. Para Paulo Mendes da Rocha existe um Brasil genuíno e longínquo das imposições e das modas estrangeiras que provavelmente será reencontrado (descoberto) com uma técnica que dê conta, não apenas da construção ou fabricação de objetos tangíveis, mas também das relações sociais e do homem. Não se trata de uma técnica da eficiência e menos ainda que vise reprodutividade ou consumo. Mas de outra que resulta da inteligência humana e que produz feitos simultaneamente simples e memoráveis.

Pode ser que o próprio classicismo execrado tenha armado suas armadilhas. Frágil como invenção, é potente no seu sentido comum e convincente. Aos mesmos lugares e situações correspondem os mesmos elementos. Tal visão clássica do mundo que consideram a noção de perfeição e conseqüente unicidade, provavelmente estimulam um moderno projeto de intervenção a repetir as passarelas sobre os pátios nos dois níveis do edifício quando, na verdade, a travessia não se completa pela inexistência de passagem através do octógono.

notas

[texto originalmente publicado pela revista AU e reproduzido com autorização do autor]

sobre o autor

Luis Espallargas Gimenez é arquiteto e professor da FAU PUC-Campinas e FAU Unip. Entre outros projetos, é autor da Base de Lançamentos de Alcântara no Maranhão

Arquitexto: 001.03ano 01, jun 2000 - Correspondência - Abilio Guerra

Link:

Há alguns anos – talvez muitos além do que gostaria – ditado pelo ritmo sonolento apropriado ao final de semana, folheava alternadamente um livro e um jornal. Em um dado momento, uma coalizão misteriosa ocorreu. A foto do jornal – duas crianças, filhos de soldados americanos mortos na guerra, depositam flores diante do Memorial do Vietnã, em Washington – parecia ilustrar de maneira simbólica o texto do livro. A lembrança carinhosa do pai ausente amalgamada com a melancolia diante do tempo irrecorrível... Desde então guardo ambos comigo, como prova definitiva e contundente da existência de segredos desconhecidos.

A rua mais estreita do mundo (1)

Preso pela mão de Atahualpa, eu ficara, por casualidade, no chão mais baixo e asfaltado da própria rua – ou seja – aquilo que logo verifiquei despertado pela extrema estreiteza como sendo o que sobrava de pavimento entre as duas calçadas daquela rua. Quando muito – medido pelos meus pés ainda de garoto – uns dois ou três deles, no máximo, tomados como padrão para calcular aquela dimensão, pondo um adiante do outro, confirmando aquela experiência. E foi o que logo fiz, despertado por aquela curiosidade que me chocara. Sem que os dois amigos me vissem – me notassem, sequer – para isso disfarçadamente tendo conseguido avançar um pouco o corpo, folgando-o do braço de Atahualpa –contendo-me para não afastar-lhe quase a mão onde me via preso – coloquei três vezes um pé dos meus, um adiante do outro – e justo como uma fôrma a medida serviu, tornando-se ali exata até acostar-se à calçada do lado oposto – o que fiz com aquele derradeiro pé que disfarçado estiquei até lá, sem sair quase do lugar. Portanto, e aqui tornou-se um grande espanto meu – redundando logo a seguir numa espécie de orgulho triunfo – naturalmente com todos os ademanes ainda infantis – aquilo não era propriamente um asfaltado de rua – e sim uma espécie de rego mais largo – aproveitado e sobrando entre aquelas duas calçadas do passeio, para ser levado a sério, com alguma proposta de ser aquilo uma via. Olhava para ali, ainda espantado – quando o amigo de meu pai, dando-me um pequeno tapa no ombro, estendeu-me a mão, sorridente, despedindo-se de mim também da mesma forma que o fizera na chegada, ao curvar-se simpaticamente mais chegado daquele jeito amistoso e condescendente, saudando-me, perguntando como eu ia. Continuamos o trajeto, nós que ficáramos – e ainda olhei para trás, seguindo o percurso do outro que se fora, mas sempre caminhando eu pela mão de Atahualpa que retomara a nossa direção, e já dessa vez, tendo subido para a calçada próximo a ele, após aquela interrupção – quando intentendo parar meu amigo – que foi retido bruscamente pelo braço que lhe retesei impedindo-o – olhei para o chão da rua mais abaixo e perguntei-lhe coisa que já ia parafusando na cabeça; havia bem poucos transeuntes por ali: – "Atahualpa" – chamei-o. – "Pronto" – respondeu-me ele imediato, como sempre o fazia comigo – sem parar de andar, daquela vez – dando-me aquele apoio e atenção, como se eu fora um adulto (mas aquilo a sério, sem me agravar). Eu me encorajei, então: – "Sabe qual é a rua mais estreita do mundo?" Ele parou ouvindo a interpelação minha, olhou-me surpreso, e balançando-me ligeiramente o braço pela mão que se mantinha sem largar – brincou comigo: – "Lá vem você com alguma das suas. Vamos lá – qual é – eu não sei" – foi dizendo logo. Puxei-lhe, então, por aquela mão que retinha a minha presa na dele, como a convidá-lo a curvar-se até mim (havíamos parado, com aquela novidade; ele me parecia tão alto na sua atitude a sorrir-me) e lhe soltei, por fim, apontando para a pequena espécie de rego que como não houvera mais espaço provavelmente, deixaram sobrando em intenção daquela hipotética rua: – "Está aqui, Atahualpa" – lhe mostrei – "não é mesmo?" Curioso como o restante da cena se evola subitamente aqui – num corte seco e definitivo – sem nenhuma possibilidade de um prosseguimento aclarado adiante ou seqüência terminando em mim – assim – naquela derradeira frase infantil, frustrada hoje, porque queria ver-lhe o sabor da seqüência. Onde se perdera? Como? Por quê? Tanto que eu quisera que a fisionomia de Atahualpa, a ouvir minha tirada, me revelasse algo através de sua reação querida. Seria um tesouro para minha memória.

notas
1
PEIXOTO, Mário. O inútil de cada um, livro 1: Itamar. Rio de Janeiro, Record, 1984, p. 150-151.

sobre o autor

Abilio Guerra é editor de Arquitextos e professor da Faculdade de Arquitetura e Urbanismo da PUC-Campinas.

Arquitextos: o novo periódico de arquitetura

Arquitextos inicia sua trajetória visando levar a informação e estabelecer o debate entre arquitetos, professores, alunos e interessados na área de arquitetura e urbanismo. Desde questões acadêmicas e intelectuais até problemas urbanos relevantes serão abordados ao longo dos números por diversos especialistas e estudiosos, objetivando uma compreensão sempre mais aprimorada do atual estágio de nossa sociedade e da materialização de nossas cidades. Convocamos nossos leitores que participem dessa trajetória com sugestões, informações, opiniões e, quando possível, artigos sobre assunto de interesse coletivo.

Um grande afeto que se encerra

Após quase uma década de intensa dedicação estou dando por terminada minha jornada à frente da óculum. Uma decisão difícil, ainda mais se considerarmos o grande número de pessoas envolvidas – correspondentes, colaboradores, leitores, admiradores e críticos – que, de um modo ou de outro, não só tornaram possível esta experiência intelectual como também lhe deu substância e a própria razão de ser.

Editada desde 1992 junto à Faculdade de Arquitetura e Urbanismo da PUC-Campinas, a revista óculum só foi possível graças ao apoio dos reitores que se sucederam e, em especial, graças ao apoio irrestrito de Wilson Ribeiro dos Santos Jr. – Caracol – diretor da escola por durante quase todo o período. A óculum não só editou artigos e projetos, mas também promoveu debates, palestras, exposições, seminários, workshops, etc, e para tanto contou com a participação de diversos professores – Wilson Mariana, Ricardo Marques, Denio Benfatti, Irineu Idoeta, Luis Espallargas, Jane Duduch, Vladimir Bartalini, Ivone Salgado, Maria Lúcia Refinetti Martins, Áurea Pereira da Silva, Maria Beatriz Camargo Aranha, Sidney Tamai, Maria Eliza Pitta e outros.

Os números da óculum contaram quase sempre com editores assistentes, com destaque para Anne Marie Sumner (Óculum 3, 4), Denio Benfatti (9), Francisco Spadoni (3, 4, 5/6), Luis Espallargas (10/11), Maurício Masson (10/11), Marcos Tognon (7/8), Paul Meurs (10/11), Paulo Dizioli (5/6, 7/8, 9) e Renato Anelli (3, 4, 5/6).

Como sustentação editorial para a revista e para o boletim óculum – que começou em 1996 e acaba com 40 números publicados – contamos com a participação assídua de um excepcional quadro de correspondentes e colaboradores internacionais: Pedro Moreira e Maria de Betânia Brendle (Alemanha), Adrián Gorelik, Diego Wisnivesky, Pancho Liernur e Ramón Gutierrez (Argentina); Eduardo Aquino (Canadá); Affonso Orciuolo (Espanha); Cristina Mehrtens, Fernando Lara e Octávio Lacombe (Estados Unidos); Paulo Dizioli, Flávio Coddou e Valentina Moimas (França); Paul Meurs (Holanda); Ana Paula Baltazar e Lígia Velloso Nobre (Inglaterra); Vittorio Corinaldi (Israel); Marcos Tognon e Renato Anelli (Itália); Luciana Itikawa e Regina Isima Vieira (Japão); Olívia de Oliveira (Suíça); e Maria del Pilar Piñeyro (Uruguai).

Contamos com o apoio inestimável de Hugo Segawa, Ruth Verde Zein, Ramón Gutierrez e Roberto Segre, que muito contribuíram para a divulgação da óculum no exterior; de Vicente Wissenbach e Marisa Castro Lopes (Finestra Brasil), Mário Sérgio Pini e Marcos de Souza (AU), que fizeram o mesmo no Brasil; de Lúcio Gomes Machado, Luiz Fisberg, Paulo Fujioka e todo o staff da Bienal de Arquitetura de São Paulo na montagem das exposições de Jo Coenen e Alberto Varas na 3ª e 4ª BIAs; de Marlene Acayaba, Mariah Villas Boas e Marcelo Carvalho Ferraz no evento com Christian de Portzamparc no Museu da Casa Brasileira; de Regina Meyer e Raquel Rolnik no número final da óculum, que infelizmente ficou no prelo e jamais virá à luz; de Nelson Kon (fotógrafo), Dárkon Vieira Roque e Regina Bassani (artistas gráficos), cujos trabalhos excepcionais catapultou a qualidade gráfica da óculum, um dos motivos do grande reconhecimento conquistado no Brasil e no exterior.

Também diversos alunos se dedicaram ao longo dos anos para a realização da revista e do boletim: Adriana Fornari del Monte, Alexandre Tonetti, Angela Bishop da Silveira, Beatriz Anelli Carvalho, Cláudia Braga, Daniel Moreira, Daniel Raizer, Daniela Camargo, Denise Bittar, Diego Vega, Eduardo Rossetti, Eliane Castanharo, Fábio Araújo, Fábio Villela, Flávio Laurini, Gustavo Ribeiro, Isabel Nicolielo, Isabela Brisighello, Ivana Miranda, Júnia Sana, Giovana Del Ducca, Marcelo Svartman, Marise Vitali, Regina Moreira, Rosana Guh, Sandra Yano, Tatiana Alarcon, Tatiana Ono Morgado e Vanessa Figueiredo. Dentre eles, destaque para André Kaplan, Daniel Carnelossi, Diego Wisnivesky, Flávio Coddou, Priscila Davini e Vagner Monteiro devido ao enorme empenho e dedicação.

A todos os nomes mencionados e a todos os esquecidos, meu eterno agradecimento por terem me permitido que fosse o executor de um grande trabalho coletivo. Aproveito para deixar aqui um convite para que participem do novo afeto que agora se inicia.

sobre o autor

Abilio Guerra, ex-editor da óculum, atual editor de Arquitextos e professor da Faculdade de Arquitetura e Urbanismo da PUC-Campinas.

Monday, August 23, 2010

Arquitexto: 001.02ano 01, jun 2000 - Meus encontros com Paulo Mendes da Rocha (1)

Monday, August 23, 2010 0
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Ter conhecido Paulo Mendes da Rocha foi um grande privilégio. Meu primeiro contato com sua obra foi na última Documenta de Kassel. Mendes da Rocha era representante da "Comunicação Moderna", ao lado de arquitetos como Rem Koolhaas e Aldo van Eyck e outros artistas contemporâneos.

Sua obra é testemunha de uma profunda consciência dos tempos modernos: esse frenesi rápido e irresistível de acontecimentos, excitante para quem faz parte, um horror para quem não pode ou quer acompanhar o ritmo vertiginoso. Tempo que fez muitas vítimas, cujo fenômeno mais escandaloso é a pobreza. Tempo que não é capaz de por fim à divisão entre pobreza e riqueza. Que status quo mais anti-social!

Os encontros com Mendes da Rocha acontecerem em um intervalo de três meses, durante duas viagens para América do Sul. Passamos dez dias na Colômbia, onde demos palestras, eu, ele e Luigi Snozzi - a versão européia de Mendes da Rocha. Foi o início de uma conversa contínua: a partir do primeiro dia em Bogotá, depois na quentíssima e frenética Cartagena no norte, até a última mesa redonda na Universidade de Medellin. Dois meses depois o encontrei novamente na 3ª Bienal Internacional de Arquitetura em São Paulo.

O encontro entre Mendes da Rocha e Snozzi tinha de acontecer um dia. Dois fenômenos de um procedimento similar - Snozzi com a sua tradição clássica européia e Mendes da Rocha com suas ricas e profundas origens da América do Sul. Ambos divulgando uma idéia, a força espiritual da própria alma. Dois arquitetos inspirados e com uma preocupação social, que produziram a vida inteira dentro de uma mesma visão de mundo. Eu estava presente nesse encontro, com o meu passado sócio-democrático holandês e com a minha educação arquitetônica forjada no escritório Van Eyck e Bosch no centro de Amsterdam ainda frescos na memória.

Mendes da Rocha tornou-se um amigo. Um amigo que, depois de estudar Le Corbusier profundamente, colocou os seus pensamentos sobre uma arquitetura justa e social no papel. Espaços nus, despojados de qualquer adorno, em que a luz flui livremente, onde a paisagem é incorporada em todos as suas facetas para servir como fundo e base de novos usos. Como Snozzi, sempre pensando em novas utopias para o Novo Mundo.

Mendes da Rocha não foge da tarefa de desenvolver novos pensamentos. Pelo contrário, ele é provocante - com o perigo de ficar um Don Quixote -, investigando a realidade e preservando sua esperança no futuro. Na sua fantasia inesgotável, na imaginação e força do seu pensar, ele consegue refletir horas e horas sobre a cidade e o cidadão. O poder de relativizar e um bom humor constante ajudam nisto. Ele enfrenta as novas realidades conscientemente. Está acostumado com o continente que mais vivenciou o crescimento explosivo das cidades. Cidades com 300.000 habitantes há trinta anos, cresceram e hoje conformam metrópoles de 12 ou mesmo 15 milhões de pessoas: áreas imensas cobertas até o horizonte com pilhas imensas de matéria. Gigantes formigueiros de pessoas, com suas línguas, emoções, sentimentos e negócios. Com congestionamentos infinitos, com a aparência de que jamais serão dissolvidos.

No meio dessa urbanidade que não é mais compreensível para o ser humano, Mendes da Rocha encontra motivos para construir um oásis de repouso e beleza, sem nenhum compromisso além de torná-los refúgios contra os terrores constantes da cidade. Lugares com uma serenidade solene. Raramente vi tanta força controlada. Arquitetura como fosse o último momento antes do movimento. Mendes da Rocha apresenta a acrobacia do trapézio e, de tanto balançar, seus prédios viram arte espacial do mais alto nível. Seus edifícios mostram o que é arquitetura na sua essência - não são meros exercícios volumétricos.

A sua arquitetura é uma caverna no meio da violência que a envolve. Ou talvez melhor, são vazios silenciosos, circundados por intrusões. Mostra uma estratégia reiterada de deixar o térreo livre e silencioso e assim se vestir de espaços de repouso, contemplação, conversa, encontro, sombra, meditação e sonhos. Espaços literários onde a natureza acha o seu lugar de uma maneira cultivada. Construções vigorosas sobrevoam com gestos generosos esses lugares teatrais, que são utilizados para morar, trabalhar ou fazer negócios.

Mas Mendes da Rocha não seria um Brasileiro se também o sublunar não fosse incorporado à sua paisagem construída. Ele cria concientemente uma nova paisagem. A inventividade mostrada nessas elaborações topográficas é única. Sem exceção, cada um dos seus projetos é um achado e isso faz da sua obra para um Europeu a maior descoberta dos últimos anos. Além da obra dos grandes mestres como Niemeyer, Bo Bardi e Oswaldo Bratke, essa obra não é apenas tipicamente brasileira, mas também um suplemento e uma continuação dos prédios rigorosos de Le Corbusier.

Paulo Mendes da Rocha cria o que a arquitetura pode ser: espaços bonitos e despojados. A sua mão quase invisível está presente em todas as decisões, sempre refinada e equilibrada. A sua arquitetura mostra a maturidade de um criador, que concebe com criatividade cada elemento do edifício, dando a ele o lugar e a dimensão convenientes. Assim é gerada uma escala conseqüente e generosa e uma atmosfera de lucidez, transparência e, acima de tudo, originalidade. A obra de Mendes da Rocha é prenhe de poesia. Ele consegue orquestrar o conjunto em silêncio, interligando e comunicando os espaços com sutileza. Esta é uma qualidade intocável de Mendes da Rocha.

notas

1
Publicado em Brazilië. Laboratorium van architectuur en stedenbouw, Paul Meurs e Esther Agricola (org), NAi, Uitgevers, Roterdam, 1998, pp 349-353. Tradução Patrícia Moribe.

sobre o autor

Jo Coenen é arquiteto e urbanista, titular do escritório Jo Coenen & Co, de Utrecht, Holanda. É autor do projeto do NAi - Instituto Holandês de Arquitetura - em Rotterdam e dos Planos Diretores do KNSM-Eiland, Amsterdam, e Sphinx Céramique, em Maastricht, Holanda.

Monday, November 2, 2009

Arquitexto 001.00ano 01, jun 2000 - A casa do futebol europeu. UEFA em Nyon, Suíça.

Monday, November 2, 2009 1
Fonte: www.vitruvius.com.br
Link:
"Abilio Guerra, ex-editor da óculum, atual editor de Arquitextos e professor da Faculdade de Arquitetura e Urbanismo da PUC-Campinas"

por: Serge Butikofer
Um concurso para o qual dez arquitetos foram convidados em 1994 é a origem da nova sede da UEFA, inaugurada em setembro último. Solicitava-se um edifício representativo do futebol europeu para alojar os escritórios, salas de reuniões e dependências. A problemática do concurso consistia em tratar a imagem de um edifício público e administrativo num contexto de propriedades privadas.

A regra e a natureza

O título sugestivo do projeto premiado, de autoria de Patrick Berger, de Paris, indica sua determinação em abordar o papel da natureza, isto é, da paisagem como uma dualidade: dois elementos que formam o todo.

A natureza: o Lago Leman, rodeado de montanhas; os Alpes, ao sul e a cadeia de montanhas do Jura, ao norte; as margens essencialmente compostas por uma sucessão de parques e propriedades privadas pouco construídas, dão uma continuidade à paisagem. O terreno, uma colina suave com acesso direto ao lago, caracteriza-se por uma vista privilegiada frente ao Mont Blanc, o mais alto pico da Europa. A escolha do terreno demonstra um desejo de inscrever a nova sede na tradição do estabelecimento de sociedades internacionais à beira do Lago Leman (ONU, CIO, Nestlé).

A régua: em sua implantação e relação com o solo, sua posição precisa na inflexão do terreno e seu gabarito controlado, o projeto reinterpreta a questão da representatividade do edifício. Patrick Berger tratou o problema da imagem da nova sede da UEFA colocando em cena a paisagem, dando-lhe o papel principal. O edifício sustenta a paisagem, sublinha-lhe como uma régua. É o Mont Blanc, monumento natural e seu valor simbólico integrado à composição quem dá ao projeto o seu caráter institucional. Aqui Berger entendeu que a paisagem constituía o valor primeiro do lugar. A imagem forte do projeto é resumida na foto-montagem apresentada no concurso: a vista desde a rua com a fachada de entrada representando o conjunto natureza-edifício como uma unidade. Ela é a expressão do edifício. Discreto, o edifício mostra o que está em torno dele e encontra sua identidade nesta nova visão do lugar.

Entretanto, com seu rigor geométrico e construtivo, o edifício se opõe à natureza. Sua relação com o terreno, expressada em corte, mostra a rudeza do contato natureza-construído. A organização interior, submetida ao partido do projeto, coloca em questão notadamente a forçada simetria do plano entre o lado orientado verso o lago e aquele orientado verso a rua. Se o projeto efetivamente utiliza o lugar, brinca com ele para daí tirar uma identidade extraordinária, ele permanece numa lógica de dualidade: a natureza e a régua.


"Nova sede da UEFA, Nyon, Suíça, arquiteto Patrick Berger.
Referência das fotos: revista a+u architecture and urbanism 11/99 n° 350 Número especial dedicado a Patrick Berger
"

Serge Butikofer é arquiteto formado em 1991 pela EPFL - Ecole Polythecnique Fédérale de Lausanne, Suiça. Entre 1991 e 1997 trabalhou em Barcelona e Salvador, Brasil. Atualmente exerce a profissão em Lausanne, onde é professor assistente do departamento de arquitetura da EPFL
 
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